Sexta-feira, 19 de julho de 2024. Ano do Dragão de Madeira no zodíaco chinês. Guarde esta data. O mundo acordou em pane com uma crise cibernética. Uma falha na segurança de computadores da Microsoft provocou um apagão planetário. Aeroportos cancelaram decolagens. Sistemas bancários ficaram fora do ar. O sinal de emissoras de TV caiu de repente. Supermercados suspenderam as vendas. Telefones ficaram mudos.
Em diferentes países, empresas de todo tipo não tiveram como abrir ao público. Os clientes foram informados por avisos colados em portas cerradas sobre o motivo do fechamento: deu ruim na rede de internet. Isso vale para a loja de flores, a clínica odontológica, a borracharia ou a conveniência de gastronomia para pets.
Em diferentes regiões da Ásia, nos Estados e na Austrália, o movimento de portos, o sistema financeiro e redes do comércio foram atingidos. O governo americano informou instabilidade no aparato de segurança. O controle rodoviário também sofreu com o bloqueio aos computadores. A recuperação é lenta em todos esses lugares.
Na Europa, hospitais, bolsa de valores e transporte ferroviário também foram afetados com o tombo tecnológico da Microsoft. Em Paris, o comitê das Olimpíadas informou que a falha global “perturba as operações informáticas” para a organização dos jogos. Os mais nervosos com o terremoto já falavam em adiar a abertura festiva do evento.
No Brasil, os efeitos mais graves do apagão no metaverso foram na empresa aérea Azul, que registrou atrasos de voos, e em vários bancos. Na verdade, praticamente todas as grandes marcas bancárias tiveram instabilidade – o que deixou clientes apavorados com o destino de seus trocados. Até o Supremo Tribunal Federal ficou fora do ar.
E tudo isso por quê? Já escrevi neste blog sobre a plutocracia digital que governa o mundo. Nossa existência está sob os domínios dos “oligarcas petulantes”, na magistral expressão do economista Paul Krugman. São esses idiotas, reverenciados por todas as gerações abestalhadas por geringonças virtuais, que querem decidir o futuro.
Menos Estado e mais a “meritocracia” dos plutocratas do multiverso. É o que vai ferrar a vida humana. Quando ocorre o que hoje ocorreu, qual o papel dos governos? Ou melhor, qual o poder da esfera pública para resolver uma crise que afeta a vida de todos? Na prática, poder nenhum. Quem manda são os bonitões do Silício e da casa do baralho.
Este caso não foi o primeiro. Penso nas crises recorrentes com o WhatsApp. Quando o aplicativo para por 5 segundos, é o caos. Tem gente que fica à beira do colapso nervoso diante do pânico da desconexão. Vale para todas as redes sociais. Para que tudo se acabe, não precisa de muita coisa. Ficar offline basta para chegar à morte.
Agora pense quando uma derrocada de sistemas digitais alcança as esferas do trabalho, do lazer, da produção acadêmica e intelectual. Imagine o apagão cibernético no campo governamental, no sistema energético, no tratamento da água e da floresta. E o que será das relações de afeto sob as patas daqueles oligarcas donos da “nuvem”?
Por isso falei em guardar a data de hoje. Não quero ser alarmista, mas, como se dizia no interior do Brasil até um dia desses, será o fim dos tempos? A distopia chegou. Por aí.