A decisão de continuar ou não a investir no metaverso tem sido amplamente discutida nos círculos de tecnologia e inovação. Há apenas um ano, parecia ser a chave para a competitividade empresarial e dominava todos os fóruns de discussão em todo o mundo. Mas, o que mudou a visão das empresas sobre esta tecnologia? Por que sentenciar o sucesso ou insucesso de uma inovação que ainda está em desenvolvimento? E para as companhias, qual o melhor caminho a seguir neste momento?
Quando falamos de tecnologias disruptivas, como o caso do metaverso, é comum o surgimento de picos de “hype”, ou seja, momentos onde o tema é amplamente comentado e viralizado, seguidos de questionamentos e dúvidas. Como aconteceu com o Facebook, quando mudou seu nome para Meta, o mundo inteiro falou sobre o assunto. Muitos acreditaram que ele representaria o futuro das conexões sociais. As famosas coleções de NFTs foram impulsionadas, movimentando ativos em torno de 1,8 bilhão de dólares, de acordo com a Galaxy Digital, empresa de serviços financeiros focada em ativos digitais. O “Bored Ape Yacht Club” (coleção de NFTs com 10 mil avatares de macacos) ganhou o apoio de celebridades globais como Snoop Dogg. Adicionalmente, shows foram realizados no ambiente imersivo para milhões de espectadores e empresas criaram suas lojas para replicar a experiência da vida real em um mundo virtual.
No entanto, apesar das iniciativas terem impactos positivos, temos acompanhado notícias que sugerem que o mercado está abandonando o metaverso. Empresas como a própria Meta, Microsoft e Disney tomaram a decisão de pausar os investimentos. Observando este cenário, nos questionamos: será o fim do metaverso? Ou essa visão é muito simplista e apressada? Se ainda estamos tentando entendê-lo, então, por que dizer que ele acabou (antes mesmo de começar)? Mas devemos investir ou esperar?
Muitos argumentam que investir milhões em um futuro incerto é arriscado demais. Porém, em inovação, especialmente quando se trata de novas tecnologias, é mais arriscado não investir para experimentar. O Gartner Hype Cycle 2022, estudo global que identifica as cinco fases principais do ciclo de vida de uma tecnologia, listou pela primeira vez o metaverso no gráfico, ocupando a posição de “innovation trigger” ou acionador da inovação, que significa a fase em que a inovação tecnológica dá o pontapé inicial. É possível que o metaverso ainda revele todo seu potencial nos próximos anos. Por isso, acredito ser crucial continuar a explorar, experimentar e inovar nessa área, mantendo o olhar atento para todas as possibilidades.
Uma pesquisa recente da KPMG, o KPMG Metaverse Investor Perspectives, comprova isso. O levantamento revelou que 90% dos investidores acreditam que o tema será a próxima fase da internet e 63% estão dispostos a aumentar os investimentos nos próximos cinco anos. A análise também destaca que o interesse em investir no metaverso se mostrou superior a outras tecnologias como criptoativos, nuvem, Inteligência Artificial, mídias sociais e Internet das Coisas (IoT).
Além disso, enxergo uma infinidade de oportunidades interessantes para essa tecnologia que ainda não foram exploradas em profundidade, como os digital twins (gêmeos digitais), que são modelos virtuais de objetos do mundo real usados para experimentação e compreensão da sua funcionalidade. A projeção de mercado para esta solução é promissora e, segundo estudo da MarketsandMarkets, empresa de pesquisa setorial, gira em torno de US$ 75,5 bilhões até 2027.
Treinamento é outro ótimo exemplo de aplicação, que não só é possível, como já mostrou parte do seu potencial. Uma das vantagens do metaverso é a sua capacidade de fornecer um ambiente de aprendizado imersivo e interativo, onde as pessoas podem aprender fazendo. Por exemplo, em jogos de simulação, os usuários podem experimentar situações do mundo real, como gerenciamento de negócios ou habilidades de negociação, sem consequências na vida real.
A ferramenta também pode ser usada em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), permitindo simular experiências científicas, possibilitando que os usuários aprendam sobre tópicos complexos de maneira segura e eficiente.
É claro que não posso deixar de mencionar que ainda existem muitos desafios para que o metaverso possa ser usado de forma massiva. Em primeiro lugar, a tecnologia exige sofisticação: softwares, hardwares e infraestrutura capazes de tornar a experiência do usuário mais realista e prazerosa. Portanto, o acesso ainda tem um custo alto, tornando difícil atingir o grande público. A segurança cibernética também é uma questão importante, principalmente considerando que dados pessoais e ativos digitais serão transacionados. Por último, existe a necessidade do desenvolvimento de regulação para respeitar as leis nacionais e as regras internas das empresas responsáveis pelos ambientes imersivos e avatares.
Apesar de tudo, acredito que o metaverso representa uma oportunidade a ser explorada por aqueles que desejam estar à frente. Os líderes criam o próximo conjunto de ferramentas para reescrever como o mundo vai funcionar. Não podemos criar o futuro olhando para o retrovisor.
Fórum CNN
Os artigos publicados pelo Fórum CNN buscam estimular o debate, a reflexão e dar luz a visões sobre os principais desafios, problemas e soluções enfrentados pelo Brasil e por outros países do mundo.
Os textos publicados no Fórum CNN não refletem, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.
Sugestões de artigos devem ser enviadas a [email protected] e serão avaliadas pela editoria de especiais.