A Copa do Mundo do Catar representa uma mudança drástica quando o assunto é tecnologia, e a principal delas está relacionada a Web3, uma palavra que ainda soa estranha aos ouvidos da maioria do público brasileiro, mas que vem se tornando uma realidade cada vez mais presente em nosso cotidiano.
De acordo com dados divulgados pela Dapp Radar, a Web3 vai se conectar com mais da metade da população mundial, ou seja, com pelo menos 4 bilhões de pessoas por meio de patrocínios, anúncios e experiências interativas durante o Mundial do Catar.
A Web3 nada mais é do que a utilização de novas ferramentas para o uso da internet de forma mais descentralizada, permitindo que os usuários possam interagir com outros usuários de qualquer plataforma, com um volume cada vez maior e eficaz de dados.
“A Copa do Mundo é um dos poucos fenômenos globais onde todas as nacionalidades, raças, ideologias ou religiões podem se unir. É o evento esportivo mais assistido do mundo, tendo atraído 3,5 bilhões de espectadores durante a edição de 2018. Espera-se que esse número ultrapasse cinco bilhões nas próximas seis semanas”, apontou o relatório da Dapp Radar.
Dois fatos mais concretos representam um pouco essas mudanças, e uma delas, pioneira, veio dos canais SporTV, com a exibição dos jogos da Copa na TV fechada com exclusividade. O conceito se chama Sportv Land e está hospedada no Roblox, um game de ambiente virtual onde é possível competir e conseguir moedas disputando jogos como ‘Altinha’, ‘Cabeceio’ e ‘Caça às Estrelas’.
“A Copa é uma grande oportunidade para apresentar novidades dos mais diversos setores à imensa audiência que o evento possui. Por contar com um público variado, é a chance de mostrar para mais pessoas, que provavelmente não teriam contato de outras formas com novidades como Metaverso e Web3, as utilidades e o potencial dessas ferramentas que chegam para enriquecer experiências no esporte e também em diversos outros setores”, destacou Fernando Patara, cofundador e Head de Inovação do Arena Hub, principal centro de fomento à inovação em esporte, entretenimento e mídia da América Latina, que recentemente divulgou o Movimento Inova Esporte, iniciativa criada para promover a inovação no futebol brasileiro.
Ao conquistar essas moedas, elas poderão ser usadas em novas experiências dentro da própria plataforma, como a ‘Roda-Gigante’, além de comprar lanches no ‘Food Truck’. Na experiência também será possível comandar a câmera do estúdio do Sportv.
Essa interação entre os usuários tem continuidade no Discord, mais um aplicativo de comunicação que permite ao público interagir com voz, vídeo e texto com amigos. Dentro desta plataforma, foi criada uma comunidade específica sobre este assunto, que vai contar também com a participação de seis influenciadores digitais: Papile, Lari Gamer, JVNQ, Andshot, Inemafoo, Cherryrar. Eles estarão ao vivo nos seus canais no Youtube, interagindo e explorando a experiência em tempo real.
“Grandes eventos acabam sendo momentos estratégicos para quem os transmite experimentar novos canais e tendências. Pelo tamanho da audiência interessada, em todos os nichos, é natural que o Sportv faça essa imersão através do Roblox. A internet será dominada pelos conceitos de web3 e a mudança já está em curso. Roblox é uma referência pra novas gerações de consumidores”, afirma Bruno Maia, especialista em inovação e novas tecnologias do esporte e entretenimento e sócio da Feel The Match, desenvolvedora de propriedades intelectuais para Web3 e Streaming.
“Lembra quando os avós não estavam em redes sociais por que isso “coisa de jovem”, “assunto de nerd”? Pois é, elas acabaram sendo a grande comunidade do que hoje chamamos de web2, todo mundo entrou e a sociedade se reorganizou – e ainda se reorganiza – em torno dos frutos disso. É cedo para dizer se, nessa nova fase da web3 os jogos como Roblox vão cumprir um papel social análogo, mas não seria impossível”, acrescentou.
Neste ano, Maia lançou a primeira plataforma do país baseada em utility tokens, ou seja, tokens de utilidade em português. A intenção da Feel The Match X é utilizar a tecnologia blockchain para promover o acesso a dezenas de eventos, bastidores, artistas, celebridades e marcas ligadas ao entretenimento, permitindo que criadores de conteúdo ofereçam acessos a momentos nunca antes abertos aos seus consumidores.
“Nesse sentido, experimentar a presença e reação da audiência que já está lá é um aprendizado importante, mas para atingir um objetivo mais estratégico será importante ver como será a execução e também a continuação, depois que o evento passar. É isso que vai construir autoridade real e conhecimento de negócios, para além do hype durante a Copa”, complementa.
Outra novidade dentro deste conceito vem da Fifa, que lançou para a Copa do Mundo um portfólio de quatro jogos em blockchain apoiados na Web3, com o objetivo de reunir internautas do mundo inteiro e fazer com que eles participem juntos durante a competição no Catar.
Um dos games que mais chama a atenção é o AI League: Fifa World Cup Qatar 2022 Edition, que é um jogo de futebol de quatro contra quatro, onde os atletas são controlados por inteligência artificial (IA). Os usuários tem poder total sobre suas decisões, podendo atuar como técnicos e donos das suas equipes, e ainda coletar e trocar os personagens a fim de montarem equipes a partir da combinação de habilidade a fim se apresentarem nas diferentes arenas mundiais, que vão de Paris ao Rio de Janeiro, de Yaoundé a Seul.
Outro game é o Uplandme, desenvolvido naquele que é considerado o maior metaverso baseado em blockchain do mundo, o Upland. Ele permite aos gamers comprar e vender as ativos virtuais, incluindo propriedades oficiais da Copa do Mundo Fifa, como vídeos lendários do torneio e compra e troca de itens.
“Jogos e eSports são algumas das oportunidades de crescimento mais rápido para a Fifa, uma vez que continua a se expandir para novos espaços digitais, plataformas e jogos que já estão recebendo fãs de futebol. Com as comunidades crescendo organicamente, a Fifa está se expandindo para novos espaços digitais – tendo lançado no início deste ano uma experiência histórica do Roblox. As novas integrações de jogos, todas projetadas com a web 3.0 e o futuro do engajamento digital em mente, são jogáveis em todo o torneio e cada uma tem um toque único no maior torneio de futebol do mundo”, disse a Fifa em comunicado.
Para Sylmara Multini, CEO da IDG NFT, as empresas da Web3 e as guiadas no mundo de cripto, blockchain e NFTs precisam sempre estar em expansão. “Elas procuram novos mercados e novos consumidores, e a área de entretenimento oferece um número ilimitado de fãs. Considero essa associação benéfica para os dois lados: as entidades esportivas, assim com os grandes expoentes da musica, são vistos como atuais e engajados, e as empresas 3.0 ganham novos mercados. Mas, como tudo na vida, leva tempo. No esporte, o investimento é a longo prazo, e a pergunta é: como essas empresas têm objetivos a longo prazo, elas vão ter tempo para esperar os resultados?”, indaga.